Anualmente, mais pessoas morrem por suicídio do que por HIV, malária, câncer de mama ou em guerras e homicídios. Segundo o relatório Suicide worldwide in 2019, da OMS, publicado em junho de 2021, entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Na sociedade de modo geral, o suicídio ainda é um tema tabu e suscita muitas dúvidas sobre como abordar a questão de forma adequada, até mesmo entre os profissionais de imprensa e de saúde.
Para os jornalistas, a OMS apresenta recomendações a serem seguidas para pautar de forma segura o suicídio. Conforme a entidade mundial, é recomendável que a imprensa divulgue orientações sobre fatores de risco e sinais de alerta relacionados ao comportamento suicida, estratégias de apoio para lidar com sofrimento, como e onde conseguir ajuda, por exemplo.
A imprensa geralmente segue as orientações técnicas e éticas dos órgãos de saúde ao tratar do suicídio. “Contudo, o tema ainda é um tabu, e as discussões sobre ele nem sempre vêm sendo realizadas de forma cuidadosa, responsável e que favoreçam a prevenção”, pondera Kelly Vedana, professora da Universidade de São Paulo e coordenadora do Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio da instituição.
Em um estudo publicado em 2021, Kelly e outros pesquisadores da USP analisaram a adequação de notícias sobre suicídio veiculadas na imprensa brasileira às recomendações da OMS. Os cientistas observaram que as indicações da entidade são parcialmente seguidas: embora a maioria das matérias tenha evitado aspectos contraindicados, a maioria também não aborda os aspectos desejáveis.
Kelly reforça ser importante evitar abordagens simplistas, sensacionalistas, que exponham a vítima ou o familiar e detalhem métodos, local de ocorrência, imagens ou cartas de suicídio. Informações que promovam culpa, julgamento, estereótipos ou a normalização do suicídio também não devem ser publicadas. Além disso, são contraindicadas expressões de linguagem que relacionem suicídio a ato “bem-sucedido”.
Sempre de forma responsável, o suicídio deve ser mencionado, pensado e desmistificado. Nomear os sentimentos, refletir antes de agir e praticar exercícios físicos foi o que ajudou Amanda, 24 anos, estudante de Arquivologia da UFRGS.
Natural de Três Coroas, ela se mudou para Porto Alegre para fugir dos conflitos familiares e estudar. “Entre 2017 e 2018, morei numa quitinete no 11.º andar. Vivia um relacionamento amoroso terrível, talvez reflexo de tudo que era ‘normal’ na infância. Eu era dependente emocional e aceitava tudo, deixava que me tratassem mal. Diante de tudo isso, eu queria muito me matar. No dia em que tive certeza, enviei um e-mail para a Prae pedindo ajuda”, conta.
O atendimento foi marcado já para o dia seguinte. Logo em seguida, a estudante passou a praticar exercícios físicos, mais especificamente levantamento de peso. “Eu, que nunca tive objetivos ou motivos para levantar de manhã, passei a ter. “Eu, que nunca tive objetivos ou motivos para levantar de manhã, passei a ter. Comecei até a competir no esporte”, se orgulha.
Hoje cursa quatro disciplinas, estagia, estuda, treina e faz acompanhamento psicológico. “É bizarro ver que é possível sair do limbo e da desgraça, que é possível melhorar. Ainda não posso dizer que sou feliz e que minha vida é boa, mas creio que seja tudo um processo”, conclui.
Situações de vulnerabilidade para o suicídio:
• tentativas anteriores de suicídio;
• transtorno mental (depressão, uso abusivo de álcool e outras drogas, esquizofrenia);
• doenças graves;
• isolamento social;
• ansiedade e desesperança;
• crise conjugal e familiar;
• situações de luto;
• perda ou problemas no emprego;
• facilidade de acesso aos meios.
Alguns sinais de alerta:
- preocupação com a sua própria morte ou com a falta de esperança;
- expressão de ideias ou de intenções suicidas;
- isolamento;
- outros fatores, como exposição a agrotóxicos, perda de emprego, crises políticas e econômicas, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, agressões psicológicas e/ou físicas, sofrimento no trabalho, diminuição ou ausência de autocuidado também devem ser considerados, se o indivíduo apresenta outros sinais de alerta para o suicídio.
Fonte: Guia “Suicídio: Saber, agir e prevenir”, do Ministério da Saúde
Texto editado de estudo da UFRGS de Elstor Hanzen