Sou andarilho à procura de mim. Parêntese aberto na estrada longa e não acabada. Pessoas acham que me conhecem, sem autoridade fazem suas previsões e dão o veredito.
Eu, sem saber quem sou, continuo me procurando, comandado por sentimentos imprevisíveis, indomáveis, que têm as rédeas da minha vida nas mãos. Sou fantoche dominado e manipulado por eles.
Educado, continuo escutando pessoas e ouvindo poucas. Ontem, 29 de janeiro de 2023, domingo de verão, praia cheia, jogava frescobol com o querido amigo Flávio Cypriano. Uns vinte metros à frente, olhei e vi sentada sorridente na areia molhada na beiradinha do mar, com seus 84 anos, a dona Uyara Coelho.
Apressei as passadas e fui ao seu encontro, ajudá-la. Segurando os seus braços, a levantei. Sorridente, me agradeceu. Hoje, 5h00 da manhã, o telefone tocou.
– Pai, você viu a mensagem que te enviei?, perguntou o meu filho Pedro.
– Não, respondi.
– Quero ver o Fafá, falou determinado.
– Mas, filho.
– Pai, saí do plantão com esse sentimento, deixando transparecer um ar de angústia.
– Te entendo. Me espera um pouco que vou me arrumar, respondi.
As padarias de Marataízes estavam fechadas. Próximo da ponte antiga na Vila de Itapemirim encontramos uma aberta.
– Bom dia. Café e pão de queijo, por favor, pedi. Atravessamos a ponte sobre o rio Itapemirim e seguimos pela estrada esburacada até o Haras Brunela, no município de Guarapari. Com intimidade de amigos, entramos no quarto dele. Com seus noventa anos, David Lacerda Fafá estava deitado, longe de tudo e próximo de nós.
– Fafá, é o Marcelo e o Pedro! Vamos ver os cavalos?, Pedro falou.
Com cuidado levamos ele para fazer xixi.
– Cuidado, Pedro! Segura para ele não cair.
Depois, sentamos para tomar café. Com lágrimas incontidas, Pedro viu diante de nós as lembranças das saudosas cavalgadas pelas estradas companheiras. Obrigado dona Uyara por me fazer enxergar e levantar a senhora ontem.
Pedro, a sensibilidade faz plantão de 24h. Eu e Fafá agradecemos por nos levantar hoje.
