Jovem, madrugada de sábado, fui lanchar na Avenida Beira-Rio. Zoando todo mundo, vivia meu desassossego. Um baixinho puxou assunto. Ria das minhas palhaçadas.
Psicológico, dando uma de bobo, tentando me fisgar, mandou essa: – Semana que vem vai ter um retiro na escola Polivalente, no bairro Coronel Borges. Queria que você fosse.
– Que convite doido é esse, maluco, falei.
Me olhou rindo e sério, mais uma vez falou: – Queria que fosse. Perguntei: – Vai ter bebida, mulher e posso levar amigos? Se despediu, dizendo: – Te espero.
Ri e pensei: Que doido!
Durante a semana pensava no convite descabido. Ressabiado, fui. Me avistou e veio ao meu encontro. Feliz, me abraçou. Sem muito falar e conhecer, me levou para uma sala, e fez uma ungida oração.
Vivi com alegria o retiro. Ficamos amigos. Socorria minhas enfermidades da alma, até por telefone. Outro convite descabido. Eu frequentar às reuniões do PCJ, em Cachoeiro. Grupo religioso, frequentado por dependentes químicos.
– Não tenho experiência questionei. Lembro do que falou: – Você vai ser importante pra eles!
Calei. Frequentei as reuniões. No meio da galera, cantamos, aprendemos, rimos e choramos.
Numa reunião, depois de relatos dos dependentes, relatei minhas misérias. Falei que eu não era diferente deles. Um dependente prontamente disse com sabedoria e pesar: – Mas você não é mal visto, nós somos!
Fim da reunião falei para ele: – Me espera, vou te levar em casa. Conversamos até o seu bairro, no morro Santo Antônio. Se despediu agradecido.
Eu, naqueles ansiosos segundos, constrangido, queria falar algo que tinha sentido na reunião. Tomei coragem e o chamei. – Anda mais comigo, vamos ficar mais próximos. Engasgado falei.
Por segundos me olhou incrédulo. Inclinou o corpo, me abraçou e falou: – Ainda bem que me disse isso. Passou a frequentar e dormir em minha casa. Nunca dei lição de moral ou controlei sua vida. Uma noite, quando estávamos saindo, ele falou: – Vamos ficar com seus pais hoje.
Obrigado por tanto, Silvestre. Me fez acreditar que eu seria importante para eles. Eles também foram importantes para mim. Vá em paz amigo!